Empresário Tarcísio Michelon detalhou planos da marca e como Bento Gonçalves se transformou um grande destino turístico
Com meta de tornar-se uma rede regional, o Hotel Dall’Onder de Bento Gonçalves ampliará sua oferta de hospedagem em 1.038 apartamentos no período de 2018 a 2020. A primeira nova operação será o Dall’Onder Axter Hotel, em Caxias do Sul, com 204 unidades à disposição a partir de abril de 2018.

Michelon expôs que investir na base cultural é a essência do sucesso de Bento
Em dezembro do mesmo ano a rede entregará empreendimento em Garibaldi, com 125 apartamentos e, para 2020, está prevista a conclusão de mais um hotel em Bento Gonçalves, com 300 unidades. Os três serão administrados na forma de condomínio, cabendo ao grupo Dall’Onder a gestão. O investimento estimado no hotel de Caxias do Sul é na ordem de R$ 60 milhões.
O grupo tem duas operações em Bento Gonçalves. O Grande Hotel Dall’Onder, que pertence ao grupo, e o Vitória, regido pelo sistema de condomínio, estão passando por ampliações, que duplicarão a oferta atual de 409 apartamentos. Tarcísio Michelon, presidente do Dall’Onder Hotel, estima a abertura de 360 postos de trabalho com as novas operações e ampliações.
O empresário palestrou da reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul nesta segunda (31), quando expôs a forma como Bento Gonçalves se transformou, nos últimos 30 anos, num dos principais destinos turísticos do Brasil. Michelon registrou a vocação turística da Região da Serra como herança da colonização, que deve nortear as políticas de promoção da atividade. “Não são as paisagens que mais atraem os visitantes, são as pessoas e seu jeito característico”, afirmou.
Lembrou que a Serra, no período de 1910 a 1960, foi o principal polo turístico do estado, condição que perdeu para o litoral a partir da construção das rodovias e quando se focou na atividade metalmecânica. Um terceiro estágio, iniciado a partir de 1980, consolidou Bento Gonçalves como atrativo turístico, quando Caxias perdeu a capacidade de hospedar a grande demanda de turistas, que começou a ir para a cidade vizinha. “Em Bento se investiu nas pessoas, na arquitetura, nas vinícolas familiares, na natureza e em tradições”, observou.
Um dos diferenciais é o passeio com o trem Maria Fumaça, responsável por atrair em torno de 300 mil visitantes por ano. O trabalho com as vinícolas fez com que, em pouco menos de 40 anos, Bento Gonçalves saísse de seis para 79 marcas. Em termos de roteiros, Michelon citou o Caminho de Pedras, onde o investimento foi na arquitetura e no desenvolvimento de negócios, hoje na casa de 84, e o Vale dos Vinhedos. Ainda destacou o turismo de aventura, consolidados em dois empreendimentos, e parques os temáticos, como o da Ovelha e a Epopeia Imigrante. Nesta categoria citou a abertura para este ano do Parque Internacional de Esculturas Domadores de Pedra.
Iniciativa privada deve assumir ações
O empresário Tarcísio Michelon referiu, em vários momentos de sua manifestação, que o desenvolvimento do turismo depende, em essência, da iniciativa do setor privado. Explicou que, desde 1980 quando iniciou o trabalho em Bento Gonçalves, encontrou pouco vontade política, assim como precisou superar a resistência de lideranças empresariais, que não viam a atividade com bons olhos. “Hoje, o prefeito Guilherme Pasin reconhece como o turismo está fazendo bem para a cidade. Não estamos livres da crise, mas ela é menor do que na indústria.”
Observou que se não pode esperar por consensos para se iniciar o trabalho. Citou, por exemplo, o fato de o comércio de Bento da área central continuar não abrindo aos sábados à tarde. Diferente do interior, onde todos os estabelecimentos atendem aos visitantes. “Deve-se começar pequeno, sem vender a ideia de um mundo de fantasias. Uma cidade forte se faz com indústria, comércio, serviços e turismo”, assinalou, reconhecendo que foi teimoso para vencer as resistências.
Argumentou que não adianta ficar reclamando do poder público quando não se toma iniciativas para atrair o turista. Ele citou, como exemplo, o investimento de US$ 1 milhão do Hotel Dall’Onder na restauração das casas do Roteiro Caminho de Pedras. Ainda defendeu que a consolidação do turismo depende da realização de eventos permanentes e não temporários, como as festas da região, que são importantes na promoção do destino. “Bento Gonçalves sedia em torno de 1 mil eventos por ano”, externou. Por conta disso, ressaltou que cidade tem como principal visitante o que vem de veículo, não mais as tradicionais excursões de ônibus. “O turismo de massa ficou com Gramado; Bento está com o turismo de elite”, salientou.
Para refletir
- Nenhum dos imóveis restaurados no Roteiro Caminhos de Pedra passou por tombamento público. Tudo foi feito a partir da conscientização dos seus proprietários.
- A decadência econômica dos anos 80 estimulou o direcionamento dos investimentos para o turismo em Bento Gonçalves.
- No mercado de eventos, ainda há um espaço muito grande de expansão. Caxias do Sul tem condições de participar, mas não tem equipamentos. Um Centro de Eventos é essencial; pode ser público com gestão privada ou exclusivamente privado.
- O cicloturismo cresce 100% ao ano em Bento Gonçalves. E tem espaço para ciclovias populares, passando por locais aprazíveis. No Brasil existem 40 milhões de adeptos ao ciclismo.
- Falta força política à região. Por meio da Fundaparque, Bento Gonçalves conseguiu pouco mais de R$ 1,3 milhão de verbas federais para a construção de um auditório com capacidade para 4 mil pessoas. Fortaleza, por sua vez, obteve R$ 600 milhões da União para projeto similar.
Foto Julio Soares, Divulgação