Ponto de Vista: Arte, arquitetura e cidadania

Arquiteta e urbanista de sucesso, presidente do Instituto SAMbA e do Mosaico na Quebrada, Jéssica De Carli é referência quando o assunto é a requalificação de espaços comunitários.

Com o projeto Mosaico na Quebrada, de “braços dados” com o rapper Chiquinho Divilas, levou vida, cor e esperança para as ruas do Bairro Euzébio Beltrão de Queiroz, em Caxias do Sul (RS). Potencializar essa visibilidade social tem sido o motor de mutirões e intervenções artísticas que já revitalizaram muros, escadarias, praças e fachadas, dando à comunidade aquele sentimento de pertencimento que se reflete no engajamento dos moradores.

Ao aceitar o convite para assinar o quarto artigo da Série Ponto de Vista, Jéssica fala sobre a junção da arte, arquitetura e cidadania e revela-se otimista em relação ao ano que se inicia. “Que a gente tenha fé pra recomeçar!”

A Série Ponto de Vista do Portal Letteris abre espaço para que lideranças femininas compartilhem suas expectativas para 2023. Cada qual com uma abordagem diferente, em que revela sua visão do mundo, perspectivas de futuro e agenda de prioridades.

Em comum, estas lideranças femininas têm o desejo de fazer um ano melhor: melhor para si, para os que amam, para a comunidade em que vivem, para o País e para a humanidade.

Arte, arquitetura e cidadania

Por Jéssica De Carli

A cidadania deveria ser, na prática, a garantia de direitos relativos à dignidade da vida humana, respeito aos direitos humanos, ao trabalho, à alimentação, ao lazer, à saúde, à educação e à moradia. Em particular, esse último assunto me interessa:

A moradia

Pelas ruas pixadas da cidade de São Paulo, não é raro encontrar a expressão “tanta casa sem gente e tanta gente sem casa”.

É curioso perceber no Brasil essas contradições. Um país territorial, com tanta moradia desocupada, e tanta gente morando na rua.

Vivemos em uma sociedade em que tudo tem dono. E esta concepção de propriedade privada e concentração de renda causa desigualdade social. Em um cenário como esse, a propriedade torna-se mais importante em um aspecto financeiro do que em um aspecto social e humano.

Segundo dados do Conselho de Arquitetura, 85% das construções brasileiras são autoconstrução. Isso significa que apenas 15% da população têm acesso digno a profissionais da arquitetura e engenharia. E é nesse lugar que acredito que 2023 será um ano promissor, um ano para levantarmos as pautas necessárias para dignidade do povo brasileiro.

E é nesse aspecto que acredito que a arte urbana tem um papel fundamental. A arte, através do poder encantador do belo, abre pautas necessárias nesse sentido, porque utiliza a cidade como plataforma de interferência. E dessa forma, democratiza o acesso à informação, colocando nas rodas de conversa esses assuntos emergenciais.

A gente precisa consolidar o diálogo entre o morro e o asfalto, requalificar espaços da comunidade, tornando-os mais agradáveis e acolhedores, com atividades culturais. E isso tudo passa por iniciativas do Poder Público, em diálogo com as comunidades e abrindo caminhos e pontes com a cidade.

Acredito que 2023 será um ano bastante promissor para a cultura como estamos percebendo nos primeiros passos dessa conjuntura política. E reza a lenda que o povo da cultura é um povo de fé. Resiliente e resistente. E 2023 será um ano regido pela mãe Oxum. E nossa mãe representa riqueza e abundância, nas águas calmas dos nossos rios. Que a gente tenha fé pra recomeçar! Feliz ano que se inicia.


Os outros artigos da Série Ponto de Vista já publicados você pode acessar nestes links:

Vania Marta Esperiorin
Aline Ribeiro Babetzki
Denise Pessôa

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Formada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo - pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), especializada em Comunicação Organizacional pela Universidade de Caxias do Sul e licenciada em Letras pela UCS.

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