Nas últimas décadas, o tema suicídio vem ganhando muita importância em razão do enorme contingente de pessoas que colocam fim às suas vidas a cada ano, cujo montante é superior à soma das mortes causadas por homicídios, acidentes de transportes, guerras e conflitos civis em todo o mundo. Esse cenário tem fomentando estudos e implementação de políticas de prevenção, de forma que a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu, em 2008, como meta global, a redução de 10% dos casos até 2020. Muitos países membros já implementaram estratégias nacionais de prevenção do suicídio e 172 deles já apresentam decréscimos nos seus índices. O Brasil, infelizmente, não se encontra presente nesse grupo.
Desde 2003, por intermédio de ações conjuntas, a International Association of Suicide Prevention (IASP) e a OMS passaram a celebrar o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, no dia 10 de setembro. Mais recentemente, pode-se observar o aumento, em âmbito nacional, de uma gama de atividades alusivas ao tema, mobilizadas por entidades do poder público e organizações da sociedade civil, em especial o Centro de Valorização da Vida (CVV) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), concentradas no mês de setembro, em alusão ao dia 10, denominado “Setembro Amarelo”. No âmbito municipal, em 2017, o município de Caxias do Sul sancionou a Lei Ordinária nº. 8.201/17, que institui o “Setembro Amarelo” no calendário municipal, com o objetivo de incentivar a necessária reflexão sobre a prevenção do suicídio nesta cidade.
Aproveitando o mês propício para discussões desse certame, a Faculdade Murialdo, de Caxias do Sul (RS), socializa a realização do estudo “Suicídio e trabalho: estudo com jovens trabalhadores de Caxias do Sul”, desenvolvido pelo acadêmico do curso de Administração da Faculdade Murialdo Geder Evando Gomes Weber, orientado pelo professor Ulisses Bisinella, filósofo, e co-orientado pela professora Gênesis Sobrosa, psicóloga, dentro das ações do Núcleo de Iniciação Científica da Instituição. A pesquisa procurou identificar o impacto da atividade e ambiente laboral no fenômeno do suicídio.
40% dos entrevistados já foram diagnosticados com um transtorno mental
O estudo, que foi desenvolvido ao longo de 18 meses, recebeu 245 respostas de um questionário aplicado a jovens trabalhadores de Caxias do Sul com faixa etária entre 15 e 29 anos. Os dados evidenciaram que 40% dos entrevistados já foram diagnosticados com um transtorno mental em algum momento das suas vidas, sendo os mais frequentes o transtorno de ansiedade (36,9%), a depressão (30,2%), o transtorno bipolar (8,2%) e o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (7,2%). Destes indivíduos, 40% apontam não seguirem tratamento regular (uso adequado das medicações e acompanhamento profissional regular). Não obstante, os dados também apontaram grande número de entrevistados que contam com pessoas próximas que já tenham tentado ou cometido suicídio (62%) – sendo em sua maioria amigos próximos (47%), seguido de familiares (37%) e por fim colegas de trabalho (16%).
Quando questionados sobre comportamento de risco, 60% (n=147) afirmaram que já desejaram seriamente morrer (desejo de morte) em algum momento das suas vidas; 49% (n=121) já pensaram seriamente em terminar voluntariamente com a própria vida (ideação suicida); e, 15% (n=36) confessaram já ter tentado tirar a própria vida (tentativa de suicídio). Entretanto, somente 11% (n=26) dos participantes se afastaram do serviço, por atestado médico, em razão de algum evento psiquiátrico, e apenas 1% (n=3) afastou-se do trabalho por laudo previdenciário, tendo recebido auxílio-doença.
Embora muitos fatores tenham relevância para a criação de condições minimamente adequadas do ambiente de trabalho e manutenção de um clima organizacional saudável – como benefícios, incentivos, conforto, ergonomia, limpeza, entre outras -, as análises das relações entre os dados apontaram que as variáveis mais significativas de ideação suicida entre fatores causais e respostas foram:
1) no que concerne ao perfil socioeconômico: a) pessoas que trabalham no comércio e na prestação de serviços às empresas; b) maior escolaridade: e, c) maior responsabilidade econômica no núcleo familiar.
2) No que se refere ao ambiente de trabalho: a) pessoas que já sofreram assédio moral no trabalho; b) pessoas que não conversariam com seus supervisores ou chefes no caso de estarem passando por algum tipo de sofrimento; e, c) que não têm acesso a um atendimento de escuta no trabalho.
Ou seja, os participantes que apresentaram a combinação deste conjunto de variáveis apresentaram maior risco para o suicídio.
Dados da pesquisa serão socializados em evento
Aproveitando o movimento “Setembro Amarelo”, mês de conscientização e prevenção sobre o suicídio, a Faculdade Murialdo promoverá palestra sobre o tema visando socialização dos resultados do referido estudo.
O evento, gratuito e aberto à comunidade, será realizado no dia 23 de setembro, às 19h30, na Faculdade Murialdo. Na oportunidade, o acadêmico Geder Evando Weber vai realizar a explanação dos resultados da pesquisa e, após, o tema será debatido pela docente da FAMUR Dra. Gênesis Sobrosa, psicóloga; Paula Ioris, psicóloga, vereadora de Caxias do Sul e integrante do Comitê de Prevenção do Suicídio; e Joceli Roncarelli, advogada e voluntária do Centro de Valorização da Vida.
“Suicídio e trabalho: adoecimento mental nas organizações”
– O quê: Palestra e mesa-redonda “Suicídio e trabalho: adoecimento mental nas organizações”
– Quando: 23 de setembro, às 19h30
– Onde: Miniauditório I da Faculdade Murialdo (Rua Marquês do Herval, 701, Centro de Caxias do Sul – RS)
19h30 – Apresentação dos resultados do estudo “Suicídio e trabalho: estudo com jovens trabalhadores de Caxias do Sul”, pelo acadêmico de administração Geder Evando Weber;
20h30 – Debate “Suicídio e trabalho: adoecimento mental nas organizações”;
21h30 – Encerramento.
– Inscrições: pelo link http://bit.ly/famursetamarelo2